Nem Mais um Minuto/Stay

Num canto, absorta em pensamentos que me levam pra longe daqui, onde sempre estive.
Onde me deixei perder a identidade, onde me deixei esquecer para me tranformar na extensão de outro ser, na sua calma, no seu poder, na sua altivez disfarçada, na sua submissão, na sua cama, no seu corpo, no chão, em movimento, no vento e se foi.
Deixar a confusão tomar conta, deixar a luz entrar para espantar todo e qualquer fantasma, deixar o erro se tornar o encanto, deixar a culpa desistir de incomodar, permitir que o som penetre e que o sabor se torne mais amargo, permitir, deixar...
Um copo à mesa, um cigarro queimando só num cinzeiro limpo, o cheiro da noite, seus caminhos sempre indecifráveis, sempre surpreendentes, acabam te levando sempre aos mesmos lugares, que agora não entorpecem, não te fazem tremer, não te fazem encontrar dentro de si o prazer de ser livre, mas te jogam novamente na sua prisão, onde há calor e o doce sabor do primeiro encontro, do primeiro amor, a dor da comparação.
Me jogo e me afundo na paz, na imensidão de estar a sós com a minha pior versão, minha ansiedade consumindo o frio, minha raiva me distanciando do paraíso inventado, meu egoísmo afastando a verdade, minha leviandade, minha insensatez queimando em minhas veias e buscando o fogo cada vez mais, se deixando queimar, se deixando enganar.
Que eu voe pra longe então e me perca nesse espaço em branco, que a luz se acenda, que a culpa encontre o culpado, que o cigarro queime e suje tudo ao redor, que os caminhos que não levam a lugar algum me dêem liberdade e não me permitam encontrar sua prisão novamente, que doa, todos os dias, que esse vazio não se preencha jamais, que o primeiro amor seja único e inesquecível e igualmente sádico;
Que eu encontre a verdadeira paz nessa minha imensidão, que eu encontre prazer no frio e acostume meu corpo e alma a serem reféns do fogo, que mentira seja contada e que a verdade prevaleça.