terça-feira, outubro 26, 2010

Ávida

Saborear breves momentos de loucura.
Eu fui, lutei, me despedacei só pelo prazer de me juntar de novo, calcificada, mais forte, estrela.
Tomada pelas emoções, cegamente, nessa fração de segundo sou livre, sou puro instinto, me abro, me exponho e me venço, existo, meu coração bate.
Abandono o recato, a precaução, qualquer pudor, vivo; verdadeiramente vivo.



"Me perco, me procuro e me acho. E quando necessário, enlouqueço e deixo rolar."
Clarice Lispector.

segunda-feira, outubro 25, 2010

A Cura

Eu me desfiz.
Eu abracei o medo e me despi... voltei pra casa sangrando, com feridas abertas, dilacerada, onde havia gelo o calor fez queimar, até que eu estava em chamas.
Eu não pude ver, permaneci cega, no escuro, onde deveria estar, deveria permanecer... agora há luz demais, me mostrando o tempo todo a razão desses pedaços de mim espalhados pelo chão...
Eu não sei ao certo a razão de ter voltado, de ter estado mesmo naquele lugar tão familiar, mas era pra ser dessa maneira, a mais dolorosa, a maneira ideal.
Era pra acontecer, o primeiro contato... só havia saudade, depois disso a culpa, a minha culpa, "por que?" POR QUE EU MERECI SER FELIZ? E eu quis reparar toda a dor que causei, mesmo tentando não causar... eu quis suturar, recompor, te refazer.
Te refazendo eu quase me perco, para sempre.
Sem saber... sem notar, eu estava de volta ao jogo, aquele em que você sempre ganha, sempre atropela sentimentos e dores e lágrimas e saudades e desesperos alheios, nada te pertence, você não é capaz de sentir, se entrega a toda a escuridão que vive em você, me desmembrando, me rasgando, expondo ossos e arrancando de mim, a paz, me levando pra longe de mim.
Você não foi bom o suficiente, sinto como se tivesse sido unilateral o tempo todo, eu sempre me destruindo um pouco pra ser, pra seguir, dar, prover, mostrar... talvez não o tempo todo, mas...
Me apaga, com calma.
Que essa paz que eu sentia me encontre e me traga de volta.
Que essas feridas cicatrizem, que eu me sinta inteira, intocada, que o mundo faça sentido.
Que eu possa amar, sentir com honestidade, enxergar sem sombras.

Nas tuas mãos.

sábado, outubro 16, 2010

They Bring Me To You

Duas estações do ano passaram por mim.
Disseram que houve muito frio, geadas, garoa fina... e eu nada senti.
Os dias lentamente se arrastaram a minha volta, me rasgando e me costurando, me despertando e me fazendo adormecer... até ser gentilmente anestesiada.
Ouvi vozes, mas e os rostos?
Me perdi.
Quando você partiu, levou consigo uma parte tão imensa de mim, perdi a capacidade de sentir sem tê-la, sem ter você... me abandonei, me joguei num abismo... e a queda livre não parece ter fim.
Há pilhas de livros nos cantos, poeira acumulando nos móveis, pilhas de roupa pra onde quer que eu olhe.
Há marcas e cicatrizes pelo meu corpo, há a sua ausência, a ausência do seu cuidado.
Meus olhos estão secos, meu coração gelado, minhas mãos trêmulas, meu cabelo agora é longo, talvez você gostasse...
Absurda essa minha súplica, absurda é a falta que eu de repente me dei conta sentir...
Eu te deixei, eu me desprendi de você, pela busca, pelo reencontro, pela lição, por egoísmo.
Adoro o som da sua voz.

Sem você não posso mais respirar.


" and only the heartaches have given me sight,
they bring me to you, they bring me to you. "