terça-feira, abril 14, 2009

Calçada

Eu só preciso desatar esse nó; eu só preciso me rasgar em mil pedaços e não precisar de você pra me juntar.
Eu só preciso fugir do seu casulo e te deixar voar em paz, eu só quero que a distância me cure de você.
Não preciso da voz fria ao telefone, não preciso ser as pedras do chão que você pisa, não preciso da preocupação, não quero ser o mau hábito, não consigo viver sob o seu olhar, sob a sua influência, sob o seu cajado.
Preciso de outras luzes, preciso brilhar, sozinha.
Nem o amor, nem a dor, nem a falta, nem a paixão, nem a mágoa, nem a culpa; podem mais me guiar.
Que as rachaduras dessas calçada sejam a minha guia, que o vento frio e a garoa fina me façam encontrar a razão, a razão pra seguir em frente, só, que toda a dedicação e o louco amor não façam meus olhos perderem o brilho, a intensidade, que essa história se torne parte de mim e não o que sou.
Me deixa ir, me deixa tentar ser o melhor que puder, me liberta da sua fantasia, desacorrenta sua alma da minha pra que a paz possa nos encontrar.
A luz se acende e se apaga, me viro na cama, sinto um calor ao meu lado, mantenho os olhos fechados e sinto o seu corpo se moldando ao meu devagar; me viro e estou sozinha na cama. Acordo.

segunda-feira, abril 13, 2009

Ciúme

Um toque, um olhar, uma esquina talvez, uma rua que te leva pra tão longe, tão longe de mim.
Novos personagens, que representam a nossa cena, aquela, onde havia o som, a ausência de luz, a companhia, a ansiedade, o frio e o calor, juntos, ao mesmo tempo; a fração de segundo que antecede o primeiro beijo.
O beijo, a mágica que nos uniu, agora sela nossa distância, o beijo que não tem razão, que não é sentido por cada célula de dois corpos que se tocam, que não se torna o oxigênio, que não tem o gosto do primeiro amor, que não traz a paz de ser completo, que não traz a insônia de ser apaixonado.
Paixão que não escreve cartas de madrugada pra aliviar a dor, a dor da saudade. Paixão que não nos deixa nus diante de todos, despidos de medo, despidos de qualquer moralidade, de qualquer preconceito, paixão que não dói, paixão que não nos traz lágrimas, paixão que não existe.
Ausência que não causa tremores de frio pelo corpo, ausência que não traz a dúvida, ausência que não traz raiva, ausência que não nos faz querer lutar para atravessar muros e rodovias, ausência que não é notada, ausência que não é sentida, ausência que não dói.
Palavras que não completam frases, lugares que não vão ser lembrados, pessoas que não são importantes, sentimentos que não curam as feridas de um coração machucado, momentos que são a estranha distração de uma alma a ser perdida.
Personagens que não existem, beijos que não foram dados, paixões que não foram despertadas, ausências que são só ilusão, palavras que não foram ditas, mentiras, fantasias, dor e lágrimas; ciúme patológico.

terça-feira, abril 07, 2009

Gravidade

Não sou capaz de superar;
Eu só seria capaz de buscar vingança, pelas experiências cortantes e pelas pessoas hesitantes que me deparei ao longo desse caminho.
Eu só seria capaz de me tornar menos humana, matando certas partes de mim para me esconder do frio e do desespero de certos momentos.
Nesses momentos que simplesmente nos arrasam e nos transformam, só nos resta olhar pro vidro e não se reconhecer, se deixar sangrar, se entregar... deixar que a dor doa, que a ferida marque e que o corpo se cure só.
Como num disco rígido, nada é apagado, só se torna invisível aos olhos, e mesmo através de uma formatação como a morte, certas cicatrizes são profundas demais, certas marcas são sentidas mesmo num mundo inteiramente diferente; os fantasmas continuam a assombrar e certas lições tem que ser aprendidas mais de uma vez, continuamente, dolorosamente.
Carregamos conosco nossas lembranças, nosso lixo emocional, nossas marcas, que nos tornam tão únicos e especiais, seres danificaos, incapazes de superar a dor, incapazes de selecionar memórias, passando por essa e por quantas vidas forem necessárias para amenizar certas feridas, para ultrapassar certos traumas; e assim, seres de alma negra, com olhos de dor intensa, com expressões altivas e muitas vezes austeras, somos inigualávelmente belos e intressantes, com machucados por toda parte e máscaras para esconder o frio e o escuro de nossos interiores continuamos a buscar, seguimos em frentes, empurrando pra baixo do tapete a dor e escondendo o medo, buscamos.